LOJA ONLINE

29 de dez. de 2023

Frustação (lista do Zé #41)

 

Tirinha do Lucas Gehre.

Olá, olá.

O ano de 2023 está bem longe de ter sido ruim para mim. Eu poderia falar das minhas vitórias aqui, mas eu ia trair meus interesses com esse último texto do ano. Quero ir contra o algoritmo e falar sobre “não chegar lá”, sobre não ter uma foto bonita numa paisagem para o Instagram. Hoje nós vamos na contramão do like.

Eu queria compartilhar com vocês alguns dos meus fracassos esse ano:

  • Abandonei um romance que escreveria no mês de janeiro (na real, não lancei nenhum livro ou HQ).

  • Em fevereiro abandonei o aplicativo para aprender a tocar piano.

  • Li 28 dos 50 livros/HQs que defini como meta.

  • Das três bandas do início de 2023, estou acabando com uma completamente nova e ¾ de uma das que sobreviveu.

  • Comecei o ano com quatro gatos e termino com apenas três (numa das minhas perdas mais dolorosas dos últimos doze meses).

  • Não concluí minha dissertação no prazo.

  • Só enviei três textos nesse mailing.

Faz tempo que eu quero falar de expectativa e frustração na carreira artística do meu ponto de vista pessoal. Afinal, lidar com isso é uma coisa inteiramente íntima. Se eu decidir me abrir sobre isso é porque espero que me ouvir chorar um pouquinho faça você chorar menos.

Sou pai de duas crianças e é muito claro para mim perceber os momentos em que elas se comparam com amigas da mesma idade. Eu mesmo tenho que me policiar para evitar pensar em como a coleguinha anda de patins melhor do que minha filha. Não é uma falha de caráter, é uma falha do sistema capitalista mesmo, afinal desde cedo a gente compete pela medalha no torneio de futsal, pelo primeiro lugar entre as melhores notas na turma, pela vaga no curso no vestibular, pelo emprego idealizado etc. 

Lembro de ter ido ao meu primeiro Festival Internacional de Quadrinhos de Belo Horizonte (FIQ) em 2011. De um lado e do outro da minha mesa eu via publicações muito mais legais do que os fanzines xerocados que eu tinha conseguido levar. Mas dureza mesmo foi ver um estande na frente com garotos abaixo dos 14 anos ganhando toda a atenção do evento, enquanto eu, na idade ~desesperadora~ de 27 anos ainda não conseguia parar um vivente na frente do meu espaço. Porque é isso… a frustração normalmente é distribuída num combo com a inveja.

Sem esse papo aqui que em arte não há competição. É difícil não olhar aquele seu conto ou ilustração e não se comparar com o colega da “mesa do lado”. E não estamos falando apenas de técnica. O outro colega, inclusive, pode estar numa fase técnica anterior à minha (até porque essa coisa de melhor e pior em arte para mim nem existe), mas se conseguiu publicar numa editora melhor ou ser convidado num evento grande, eu já vou achar que estou fazendo tudo errado. E olha que quem digitou essas letras foi um homem-cis-branco. Essa conversa também tem muito a ver com privilégios e se eu, aqui do interior do Ceará, tenho que pedalar o dobro pra chegar onde os coleguinhas de São Paulo chegam, artistas não-homens, não-brancos e não-cis precisam pedalar o triplo que eu.

Mesmo que um ou outro artista diga que faz arte pela arte, a maioria de nós se vê sempre competindo: por prêmios, por espaço, por atenção, por jobs etc. A frustração nos faz até esquecer que, no fundo, pouca gente vive disso e sucesso é um conceito super incipiente. Vender muitos livros é sinal de sucesso? Ter muitos seguidores é sinal de sucesso? Ganhar um prêmio é sinal de sucesso? Garanto que tem gente muito mais bem servida em uma ou mais dessas questões e tem tanta síndrome do impostor quanto eu ou você. No final, a gente precisa descobrir o que realmente importa para gente. E seguir fracassando. Porque, tanto quanto nossa técnica, nós precisamos também aprender a arte de conviver com a frustração de não se sentir lido/assistido, de não ganhar o prêmio, de não ter seja qual for o retorno que você esperava pela sua criação, de não atingir o tanto de gente que gostaria de atingir com aquele texto que você escreveu para o seu mailing sobre frustração. 

No final, o que mais nos define como artistas é o que fazemos entre um ~~sucesso~~ e outro. No caminho árduo dentro dos vales que separam os picos. “O verdadeiro trabalho está em conseguir manter a sanidade durante todas as fases de criação”, como eu li por aí num ótimo texto da Elizabeth Gilbert. Eu não tenho um conselho para isso, até porque provavelmente pareceria autoajuda. O que eu faço é continuar tentando. O próximo trabalho pode ser o antídoto para o anterior. Ou não. Só vou descobrir seguindo sempre em frente.

Certamente ajuda procurar se cobrar menos. Hoje eu tenho persistido mais do que eu persistia antes nas coisas, mas cada vez mais também respeito os limites do meu corpo. Se deu, ótimo. Se não deu, respira fundo, retoca a maquiagem e procura outro lugar para se apresentar. Faço o melhor dentro do tempo que eu tive, jogo no mundo, comemoro os elogios e absorvo o mais rápido que posso as críticas. De novo, vale a máxima de fazer melhor da próxima vez. O erro de ontem faz parte do que tive que aprender para acertar hoje.

Uma verdade dura sobre trabalhar com arte é que você vai fracassar muito mais do que acertar. Às vezes, você até vai acertar, mas vai achar que fracassou porque não foi capaz de ver algo maravilhoso que aconteceu no caminho*. Eu tenho tentado abrir mais os olhos e curtir o processo.

Para os próximos anos, que venham muito mais fracassos. É um sinal de que eu estou tentando.

Um abraço e até o ano que vem!

 

* Ah, eu tinha me prometido não colocar nada edificante aqui, mas eu não resisto. Comecei a escrever esse texto lidando com a frustração de não ter sido indicado ao Troféu HQMIX desse ano. Aí abri uma notícia sobre a indicação da quadrinista Lara Nicolau e ela me citava como influência. Acho que foi melhor do que ganhar o prêmio.

** A tirinha que ilustra esse post é do Lucas Gehre.

 

13 de nov. de 2023

"Mata-mata: versão estendida" é semifinalista do Jabuti! 🐢

 


Olá, olá!

Parece que só venho aqui pra falar de prêmios, né? Na correria para concluir meu mestrado, essa lista ficou entregue às traças… Mas por pouco tempo, prometo. Enfim, dei uma pausa na análise de dados da minha dissertação (em breve volto aqui pra falar mais dela) pra mais uma notícia bombástica:

Sou semifinalista do Prêmio Jabuti novamente!

Dessa vez numa categoria de literatura, com meu romance “Mata-mata: versão estendida”, lançado em 2022 pela Editora Draco, que ficou entre os 10 primeiros na categoria de “Romance de Entretenimento”. Em 2019 fui semifinalista com “Cangaço Overdrive”, na categoria de Histórias em Quadrinhos, e digo sem pestanejar que as coisas não foram mais as mesmas.

Fiz um agradecimento oficial em vídeo no Instagram, mas não custa reforçar… Esse é um trabalho coletivo, começando pelas ilustrações de Rafael Dantas, músicas de Rafael Cavalcante, áudio drama editado pela 20a20 Produtora (Kaio Anderson e Leonardo Leitão), vozes de Franck Terranova e Alexandre Fontenele e hotsite criado por Gusta Mociaro. E o mais importante: a versão estendida e impressa de “Mata-mata” só foi possível com o apoio de 154 pessoas numa campanha de financiamento coletivo no Catarse. Se você está entre elas, FOI INDICADO AO JABUTI TAMBÉM!

Não apoiou no Catarse? Ainda não tem o livro? Adquira o seu no site da Editora Draco ou na Amazon.

16 de jul. de 2023

"Assombros" é um dos ganhadores do Prêmio LeBlanc

 

 

Meu livro de contos Assombros foi anunciado como um dos vencedores do Prêmio LeBlanc, na categoria de antologia/coletânea nacional inédita de fantasia, ficção científica e terror publicada em 2022!

Gostaríamos de agradecer aos organizadores e jurados do prêmio pela oportunidade e, principalmente, a todos os leitores e amigos que votaram na primeira fase do prêmio. Como uma obra publicada através de financiamento coletivo, Assombros já nasceu do esforço e vontade de um monte de pessoas que apoiam e acreditam nas palavras que este escritor escreve, mesmo quando elas são histórias escabrosas de fantasia, ficção científica e terror. Esse prêmio é nosso!

Lembrando que o livro continua à venda no site da Editora Draco, na Amazon e diretamente comigo. Garanta agora mesmo seu exemplar da primeira tiragem do livro!

25 de fev. de 2023

Zona de Perigo: devo fazer a dancinha da vez? (lista do Zé #40)

 

Crianças de Uganda que viralizaram fazem coreografia de "Zona de Perigo".

Uma das questões que tem me atormentado mais como escritor nos últimos anos é essa coisa do marketing. Vale dizer que “essa coisa de marketing” não é exatamente um bicho-papão para mim. Na real, é basicamente meu objeto de estudo e de trabalho desde que me formei em administração (pois é, mas pelo menos não uso sapatênis) no agora longínquo ano de 2007. Por anos, fui sócio de agência de publicidade e prestei serviços como consultor de marketing digital. Então essa coisa de se promover na Internet era pra ser moleza, certo?

Para contribuir com esse quadro, vez por outra sou alvo de anúncios nas redes sociais de escritores que prometem ensinar como fazer meu livro chegar a muitos leitores, como ganhar muitos seguidores, como gerar o tal do engajamento etc. Também não canso de ler por aí que algumas editoras (não todas) estão cada vez mais analisando a presença nas redes sociais de escritores e artistas, em detrimento do quanto sua obra é boa mesmo. O mesmo para gravadoras com músicos e até mesmo empresas procurando novos empregados. Será que é isso mesmo? Será que é melhor separar uma parte do meu limitado tempo para fazer a dancinha do Leo Santana e entrar na trend da vez?

Bom, eu preciso ser sincero, como profissional de marketing, e dizer que SIM, ter um público engajado nas redes sociais e muitos seguidores vai ajudar você como autor. Inevitavelmente as editoras vão se interessar mais no seu trabalho se você for gigante no seu perfil no Twitter ou Instagram, porque os risco de publicação do livro já começam bem menores. E, convenhamos, por mais legais que alguns editores possam ser, eles precisam tipo… VENDER LIVROS. Coisa que já não lá muito fácil, diga-se de passagem. Então se você é uma pessoa que tem recursos para contratar um profissional de marketing (de repente colocar isso em seu orçamento numa inscrição de edital ou na sua campanha de financiamento coletivo), vai fundo, isso vai te ajudar bastante. O conselho vale também para você que se sente à vontade ou tem habilidades em manipular as redes sociais da vez, como o Tik Tok e o Instagram. Se mexer nessas coisas é uma coisa natural para você, se você tem tempo e, sei lá, de repente até gosta de fazer isso, manda brasa!

“Então é isso, tenho que me dedicar mais às redes sociais?” Não, não foi isso que eu falei lá em cima. Eu disse que esse é um caminho massa SE, e apenas SE, você tem os recursos ou se sente à vontade para isso. Quando eu era um consultor na área de marketing, sempre tinha esse papo com meus clientes, quase sempre pequenos empresários. Os clientes sempre traziam exemplos de concorrentes que usavam bem as redes sociais, que faziam stories de tudo, até da vida pessoal, e de como isso poderia converter em vendas. E eu ia lá e falava que era isso mesmo, que essa lógica fazia sentido, mas que isso não significava que esse era o melhor caminho para todos. Se estar nas redes sociais exige de você um grande esforço, se isso pode inclusive te ADOECER, então significa que esse NÃO é o caminho para você. Na real, quanto mais minha existência nesse planeta se prolonga, mas eu percebo que qualquer coisa que eu faça em prol do capitalismo e que me adoeça não é bom.

Chegar a essas conclusões de alguma forma me libertou nos últimos anos. Se qualquer autor já se cobra sobre presença nas redes sociais, imagina eu, que já trabalhei com isso? No meu caso (e aí, veja bem, não sei se é o melhor para você, analise com moderação as palavras seguintes), tenho cada vez menos me dedicado a movimentos em redes sociais que me tomam tempo demais ou que eu simplesmente eu não curta fazer. Isso transformou minhas redes sociais num amontoado de posts de divulgação estáticos e, aqui e acolá, uma foto da minha família. E tudo bem.

Mas, olha só, quando uma ideia para um conteúdo vem e eu sinto que vou curtir fazê-la, eu me programo para executar aquilo. É cada vez mais raro, mas vez por outra eu faço um reel para o Instagram (ainda não criei coragem para entrar no Tik Tok, mas talvez seja só a velhice me deixando mais rabugento). Me dedicar menos às redes sociais provavelmente vai fazer com que as coisas aconteçam de forma muito mais lenta do que com outros autores, mas pelo menos vai fazer com que eu siga o caminho da escrita, já bem tortuoso, de um jeito mais leve. Vale também a reflexão (e que merece um texto à parte no futuro): como vou me divulgar? Se você não sente que tem as sacadinhas rápidas para hitar no Twitter, pode fazer posts fotográficos no Instagram. Se não manja de fotografia, pode indicar filmes legais em posts no Facebook. Se não curte a dinâmica do Tik Tok, pode fazer uma lista de e-mails no Substack (opa, me entreguei aqui). Para pensar um pouco agora: que tipo de conteúdo eu gosto e seria confortável de fazer na Internet?

Enquanto isso, você pode se concentrar mais no que, no fim das contas, é o real objetivo da coisa: PRODUZIR. Afinal, ter muitos seguidores e não ter obras para lançar é algo que realmente não faz muito sentido, certo?

Para receber textos como esse, inscreva-se na minha lista de e-mails.