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25 de fev. de 2023

Zona de Perigo: devo fazer a dancinha da vez? (lista do Zé #40)

 

Crianças de Uganda que viralizaram fazem coreografia de "Zona de Perigo".

Uma das questões que tem me atormentado mais como escritor nos últimos anos é essa coisa do marketing. Vale dizer que “essa coisa de marketing” não é exatamente um bicho-papão para mim. Na real, é basicamente meu objeto de estudo e de trabalho desde que me formei em administração (pois é, mas pelo menos não uso sapatênis) no agora longínquo ano de 2007. Por anos, fui sócio de agência de publicidade e prestei serviços como consultor de marketing digital. Então essa coisa de se promover na Internet era pra ser moleza, certo?

Para contribuir com esse quadro, vez por outra sou alvo de anúncios nas redes sociais de escritores que prometem ensinar como fazer meu livro chegar a muitos leitores, como ganhar muitos seguidores, como gerar o tal do engajamento etc. Também não canso de ler por aí que algumas editoras (não todas) estão cada vez mais analisando a presença nas redes sociais de escritores e artistas, em detrimento do quanto sua obra é boa mesmo. O mesmo para gravadoras com músicos e até mesmo empresas procurando novos empregados. Será que é isso mesmo? Será que é melhor separar uma parte do meu limitado tempo para fazer a dancinha do Leo Santana e entrar na trend da vez?

Bom, eu preciso ser sincero, como profissional de marketing, e dizer que SIM, ter um público engajado nas redes sociais e muitos seguidores vai ajudar você como autor. Inevitavelmente as editoras vão se interessar mais no seu trabalho se você for gigante no seu perfil no Twitter ou Instagram, porque os risco de publicação do livro já começam bem menores. E, convenhamos, por mais legais que alguns editores possam ser, eles precisam tipo… VENDER LIVROS. Coisa que já não lá muito fácil, diga-se de passagem. Então se você é uma pessoa que tem recursos para contratar um profissional de marketing (de repente colocar isso em seu orçamento numa inscrição de edital ou na sua campanha de financiamento coletivo), vai fundo, isso vai te ajudar bastante. O conselho vale também para você que se sente à vontade ou tem habilidades em manipular as redes sociais da vez, como o Tik Tok e o Instagram. Se mexer nessas coisas é uma coisa natural para você, se você tem tempo e, sei lá, de repente até gosta de fazer isso, manda brasa!

“Então é isso, tenho que me dedicar mais às redes sociais?” Não, não foi isso que eu falei lá em cima. Eu disse que esse é um caminho massa SE, e apenas SE, você tem os recursos ou se sente à vontade para isso. Quando eu era um consultor na área de marketing, sempre tinha esse papo com meus clientes, quase sempre pequenos empresários. Os clientes sempre traziam exemplos de concorrentes que usavam bem as redes sociais, que faziam stories de tudo, até da vida pessoal, e de como isso poderia converter em vendas. E eu ia lá e falava que era isso mesmo, que essa lógica fazia sentido, mas que isso não significava que esse era o melhor caminho para todos. Se estar nas redes sociais exige de você um grande esforço, se isso pode inclusive te ADOECER, então significa que esse NÃO é o caminho para você. Na real, quanto mais minha existência nesse planeta se prolonga, mas eu percebo que qualquer coisa que eu faça em prol do capitalismo e que me adoeça não é bom.

Chegar a essas conclusões de alguma forma me libertou nos últimos anos. Se qualquer autor já se cobra sobre presença nas redes sociais, imagina eu, que já trabalhei com isso? No meu caso (e aí, veja bem, não sei se é o melhor para você, analise com moderação as palavras seguintes), tenho cada vez menos me dedicado a movimentos em redes sociais que me tomam tempo demais ou que eu simplesmente eu não curta fazer. Isso transformou minhas redes sociais num amontoado de posts de divulgação estáticos e, aqui e acolá, uma foto da minha família. E tudo bem.

Mas, olha só, quando uma ideia para um conteúdo vem e eu sinto que vou curtir fazê-la, eu me programo para executar aquilo. É cada vez mais raro, mas vez por outra eu faço um reel para o Instagram (ainda não criei coragem para entrar no Tik Tok, mas talvez seja só a velhice me deixando mais rabugento). Me dedicar menos às redes sociais provavelmente vai fazer com que as coisas aconteçam de forma muito mais lenta do que com outros autores, mas pelo menos vai fazer com que eu siga o caminho da escrita, já bem tortuoso, de um jeito mais leve. Vale também a reflexão (e que merece um texto à parte no futuro): como vou me divulgar? Se você não sente que tem as sacadinhas rápidas para hitar no Twitter, pode fazer posts fotográficos no Instagram. Se não manja de fotografia, pode indicar filmes legais em posts no Facebook. Se não curte a dinâmica do Tik Tok, pode fazer uma lista de e-mails no Substack (opa, me entreguei aqui). Para pensar um pouco agora: que tipo de conteúdo eu gosto e seria confortável de fazer na Internet?

Enquanto isso, você pode se concentrar mais no que, no fim das contas, é o real objetivo da coisa: PRODUZIR. Afinal, ter muitos seguidores e não ter obras para lançar é algo que realmente não faz muito sentido, certo?

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