Imagem de Splendor Blues, webtoon que coroterizei. |
É raro encontrar por aí algum autor de primeira viagem que não sonhe em ter em suas mãos seu primeiro livro ou quadrinho impresso. Eu lembro do cheiro do meu primeiro fanzine (aquele cheiro de xerox barata de faculdade) e também do peso satisfatório do primeiro exemplar de Quem Matou João Ninguém?, meu primeiro álbum publicado. Mas pode ser que você seja de uma geração diferente da minha e, no fim das contas, só queira mesmo ser lido, sem ter que derrubar umas árvores pra isso. Então vamos falar de publicação digital.
A publicação digital não é mais uma coisa do futuro, é um mercado que já pulsa forte já há algum tempo. No lado da literatura, a coisa já tá muito avançada e vender ebooks na Amazon é um caminho muito bem estabelecido e explorado por autores e editoras. Eu tenho, sim, meu receios com a toda poderosa livraria online, mas não posso negar que ela criou um ecossistema fértil para autores que queiram se autopublicar. Através de um sistema próprio qualquer escritor pode disponibilizar seu livro e estabelecer um preço (do qual a Amazon vai ficar um percentual). O sistema não substitui as imprescindíveis funções do editor, diagramador e etc., mas quebra um galho danado se você não tem grana pra essas coisas. Além disso, a plataforma é uma rede social e, conforme recebe avaliações, seu livro é indicado pra outros leitores e pode crescer muito organicamente. Foi isso que aconteceu com meu ebook Mata-mata, que, sem grana para divulgação (mas com um grande esforço meu e da Editora Draco), ficou meses entre os contos mais lidos da plataforma. Chegamos a muita gente como você pode ver pelas avaliações e comentários sobre ele na Amazon.
Mas você pode querer ainda mais interação social, então a indicação são redes sociais para escritores, como o Wattpad. Você cria o seu perfil e pode publicar seus textos, curtos ou longos, e receber comentários de outros usuários da plataforma. Se procurar na internet, você vai encontrar histórias de autores conhecidos que começaram a conquistar seus primeiros leitores (e contratos com editoras grandes) por lá.
E nos quadrinhos? A Amazon também oferece suporte para publicar HQs, que inclusive podem ser lidas pelo seu popular dispositivo Kindle. No entanto, a experiência para o leitor ainda fica a anos luz da versão impressa. Se para literatura há um sem fim de comodidades para o leitor (você pode mudar a fonte, consultar dicionários, marcar trechos do livro etc.), para o leitor de quadrinhos resta a frustração das versões mais baratas do Kindle não terem cores e ainda a péssima experiência com imagens.
Para quadrinhos online, outras plataformas tem apresentado soluções mais interessantes, como o Tapas e o Webtoon. Ambas oferecem a possibilidade de você publicar quadrinhos online, com uma série de recursos interessantes para o leitor.
Aqui cabe um parêntese, onde precisamos separar quadrinhos feitos para serem impressos e que são adaptados para serem lidos de forma digital e quadrinhos criados especialmente para o meio digital. O Tapas oferece uma experiência muito legal se você já fez o quadrinho para ser impresso e pretende só criar uma versão digital (ou se vai publicar digital, mas pensa em imprimir em algum momento). Já o Webtoon aperfeiçoou o que nos primórdios da internet a gente chamava de webcomics, ou seja, quadrinhos que se aproveitam do digital para fornecer experiências que não são possíveis em papel. O grande desafio, nesse caso, é pensar a HQ, desde o começo, como um produto para Webtoon, o que inclui coisas como esquecer a dinâmica tradicional das páginas: você vai trabalhar quase quadro a quadro, podendo ainda usar o “rolar” da página para oferecer experiências de leitura para o leitor. É possível adicionar movimento com GIFs e até sons. Tudo isso fez esta plataforma, criada na Coreia do Sul, crescer de forma brutal. Hoje inclusive o Webtoon já apresenta ferramentas onde você pode ser remunerado pelos fãs do seu trabalho através da plataforma (numa integração com o Patreon). Mas tem um ponto negativo: dificilmente sua HQ feita para usar os recursos do Webtoon funcionará da mesma forma impressa. Acrescente aí que o público do Webtoon é diferente do público tradicional de quadrinhos. Estamos falando de leitores jovens, com maior disposição para o estilo oriental de fazer quadrinhos (mangás e manhwas).
Aí eu deixo uma dica para quem quer experimentar o Webtoon: a plataforma tem uma série de tutoriais para você construir sua HQ aproveitando o que há de melhor nela. Mas como está tudo em inglês lá, eu recomendo mesmo é esse guia maravilhoso que Ale Presser fez com um monte de informações pra quem quer publicar no Webtoon.
Então na hora de escolher como vai disponibilizar seu livro ou quadrinho de forma digital, é preciso pensar primeiro qual seu objetivo. Quer vender? Talvez a Amazon e o Webtoon sejam os melhores caminhos para quem quer um retorno financeiro. Quer divulgar meu trabalho, criar um público e receber feedback? Então dê uma boa pesquisada no funcionamento do Wattpad e do Tapas.
O importante é não deixar de contar suas histórias.
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