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5 de abr. de 2016

Dois Leandros (lista do Zé #2)


Olá, olá!

Por aqui a temperatura melhorou. Tá chovendo, a gente comemora. As trovoadas estão acontecendo bem abaixo das nuvens também, com a situação política brasileira num ruído tão grande que nas redes sociais se criaram torcidas organizadas. A minha timeline estaria dominada até agora por isso, não fosse a estreia recente de Batman vs Superman: A Origem da Justiça. Porém quem está brigando mesmo nesse filme não são o Último Filho de Krypton e o Cavaleiro das Trevas, mas as duas massas que se formaram: aqueles que amaram o filme e aqueles que odiaram. Eu não vi ainda. Tanto quanto a história propriamente dita, a arte também gera boas discussões. Já fui questionado por outros artistas sobre defender pontos de vista em meus trabalhos. Acho que por ter tido meu primeiro contato com criação artística compondo para uma banda de punk rock/hardcore, eu dificilmente escreverei algo na minha vida sem tentar fazer as pessoas refletirem a respeito de algum tema. E acho que o artista tem a sua função na maioria das discussões políticas. Mesmo quando ele não quer, mesmo quando ele se diz neutro. Afinal não escolher também é uma escolha. Isso tudo é pra dizer o quanto eu aprendi sobre história, política, ciência etc. lendo livros de ficção científica, histórias em quadrinhos de super-heróis e filmes de cowboy. Ainda preciso do livro de história, mas a arte ensina muita coisa. E, por isso, precisamos falar do último disco do Emicida.

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O primeiro Leandro

Eu não estava preparado psicologicamente para Sobre crianças, quadris, pesadelos e lições de casa..., o novo CD do Emicida. Eu não sou exatamente um fã de rap, nacional ou internacional, mas o primeiro álbum deste cara (que nasceu como Leandro Roque de Oliveira) foi uma das grandes surpresas musicais de 2013. Em O glorioso retorno de quem nunca esteve aqui, Emicida já mostrava que seu amadurecimento artístico estava completo. Agora, com SCQPLC (vamos abreviar, né?), vemos um álbum político e poderoso, um manifesto, em especial, contra o racismo. Eu digo "em especial" por que apesar de a grande bandeira do Emicida ser contra o preconceito racial, numa análise mais profunda você encontrará um disco que canta em favor das minorias. O ponto máximo do álbum é a agressiva Mandume, desde já uma obra-prima do rap nacional, na opinião deste relator. Abrindo mão da maior parte da música para dar voz a vários outros rappers, o cantor endossa os discursos, entre outros, de Drik Barbosa e Rico Dalasam, mulher e homossexual assumido respectivamente. O primeiro single lançado de SCQPLC, Boa Esperança, quebrou a internet no lançamento. É um vídeo incômodo, como a maior parte do álbum. Pelo menos pra mim este álbum é um soco no estômago. Em muitas músicas eu senti que o Emicida conversava comigo, com o Zé Wellington mesmo. Sou homem, branco e heterossexual e não é fácil me reconhecer como privilegiado. Mas é preciso. Resultado de uma viagem do cantor à Africa, das músicas a arte do disco (um trabalho maravilhoso do estúdio Black Madre) o disco é quase um documento, daqueles que nos fazem questionar os livros de história, como o próprio Emicida já falou. No meio de tanta porrada, há, sim, as baladas, como a linda Passarinhos e Baiana, que coloca Emicida junto com Caetano Veloso. E depois deste álbum o rapper merece mesmo um lugar entre os grandes nomes da música brasileira.



O segundo Leandro

"Mas, Zé, no seu primeiro texto você falou de tudo menos quadrinhos", alguns disseram. Ok, então vou começar lá em cima, com o nível no espaço sideral. Eu sou um cara muito curioso. Daí quando algo começa a ser muito comentado na internet e comentado pelas pessoas certas (aquelas pessoas que você gosta de seguir nas redes sociais por conta das indicações que elas fazem), você começa a achar que tem que verificar aqueles elogios por conta própria. E eu vi crescer no final do ano passado o hype em cima de Dupin, graphic novel do brasileiro Leandro Melite (também conhecido no cenário independente como L. M. Melite). Livre adaptação das aventuras de C. Auguste Dupin, detetive criado por Edgar Allan Poe (e que inspiraria outros detetives da literatura, como o célebre Sherlock Holmes), o quadrinho narra o encontro do solitário Gustave e seu inseguro primo Eduardo. Forçados a viver na mesma casa, os jovens decidem investigar por conta própria um estranho assassinato. Quem já conhece o trabalho do Melite vai sacar rapidinho que a investigação é um grande McGuffin. Dupin, na verdade, é uma grande jornada de autoconhecimento. Mesmo com um desenho simples (mas longe de ser simplório), o autor entrega uma boa aventura cheia de experimentalismos. E após ler uma entrevista com o Leandro no site Vitralizado (que eu recomendo fortemente para quem é ou quer ser autor de quadrinhos) eu percebi que esta discussão entre comercial e autoral é algo que o incomoda. Por sorte, esta HQ oferece um meio termo muito interessante. Como bônus, a trama é cheia de easter eggs para quem gosta de quadrinhos, já que os dois protagonistas são fãs de super-heróis. Enfim ler trabalhos de autores como Melite (e ainda incluo aqui outro brasileiro, Marcello Quintanilha, do qual eu devo falar para vocês em breve) é de dar um alívio enorme. O alívio é ver que, mesmo com tantos problemas no "mercado" brasileiro de quadrinhos, alguns autores ainda conseguem atingir este nível de maturidade como contadores de história. Dupin teve pouquíssimo espaço na mídia, então não se engane e conheça esta obra agora.



Já conhecia o novo álbum do Emicida ou Dupin? Deixa um comentário pra gente conversar a respeito. Várias pessoas interagiram à postagem passada. Vou compartilhar as indicações que me fizeram com vocês:
  • O Thiago Lins me indicou Treme, que explora as consequências do furacão Katrina. Não vi ainda, mas é HBO, então há altas chances de ser bom.
  • A Paloma Diniz indicou Love and Rockets, dos irmãos Hernandez. É um pecado mortal que eu ainda não tenha lido nada desta série consagrada. Espero corrigir isso em breve.
  • A Paloma indicou também One Piece. Vi uns trinta a quarenta episódios do anime na época em que ele foi lançado e me diverti bastante. Esta aventura com piratas é uma parada comercial, mas que escapa das armadilhas do gênero. Não continuei por motivos de FICOU GRANDE DEMAIS (mais de 700 episódios e contando). Quem sabe um dia volto.
  • O meu amigo Mackenzie Melo, lá de Massachusetts (pra não perder a oportunidade de falar essa palavra linda), indicou Mozart in the Jungle, sobre os bastidores da música erudita. Tem música e tem o Gael García Bernal, um ator que sabe escolher bem seus projetos. Já tá na lista.
  • O Mackenzie indicou também The Man in the High Castle, série que adapta o livro do mesmo nome (no Brasil O Homem do Castelo Alto, lançado pela Editora Aleph), do escritor Philip K. Dick. A história é um grande E SE, no caso explorando o que aconteceria se a Alemanha tivesse vencido a Segunda Guerra Mundial. Vi o piloto da série na época em que foi lançado e achei INCRÍVEL. A indicação do Mackenzie me lembrou que tenho que voltar para esta série o quanto antes. Assistam comigo e conversamos sobre ela mais à frente.

Enfim, MUITO OBRIGADO pelas indicações. QUERO MAIS.

É sempre bom frisar que tudo que leio estou colocando nos meus perfis no Skoob (também no perfil pessoal) e Goodreads e o que assisto está indo pro Filmow. Cliquem nos links e me adicionem por lá. E se já leu meus quadrinhos, não esqueçam de deixar a avaliação de vocês.

Você pode também deixar um comentário sobre esse texto no meu Facebook, no post sobre ele.

Bem rapidinho

Falei dos meus quadrinhos e me veio a dúvida: interessa a vocês acompanhar um pouco do processo da minha próxima HQ? Se sim, recomendo uma visita ao meu Tumblr.

E é isso. Fiquem felizes, não deem espaço para o ódio e até a próxima.



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