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28 de nov. de 2016

Atendendo a pedidos (Lista do Zé #10)


Olá, olá!

Eu fui no Facebook e perguntei pra galera: o que você gostariam que eu escrevesse para a próxima newsletter? As respostas foram bem variadas. Teve gente que pediu para comentar sobre série, alguns sobre estrutura de escrita, outros sobre a situação política do país, alguns tiraram onda... Fiquei pensando no que fazer com as respostas e com a maior pena sobre escrever sobre uma coisa só. Aí lembrei que a Amanda Palmer, uma das minhas pessoas prediletas no mundo, abria uma comunicação com os fãs e depois pegava todos os assuntos abordados nas conversas e fazia uma música. Será que eu conseguiria fazer um texto que fizesse algum sentido com os comentários que postaram neste post? Vejamos.

Faroeste, ficção científica, gênero e Westworld

Um dos principais motivos de eu ter escrito o primeiro volume de Steampunk Ladies é o fato de eu ter uma memória afetiva relacionada aos westerns que meu pai assistia, ainda na época do videocassete. Não me considero um grande fã de bang-bangs, mas aprendi a apreciar o gênero.

Os faroestes se tornaram um gênero próprio de Hollywood, depois de um grande sucesso destas produções nas décadas de 60 e 70. Foi a partir de uma imersão no gênero que começou a construção do roteiro do meu quadrinho, como já é meu costume de trabalhar. No seu ótimo livro Story, Robert McKee fala sobre a importância de se apoderar das principais convenções de um gênero de história antes de começar a escrever dentro dele. Para exemplificar, lembre-se dos filmes de terror (os do cinema, e não este que está passando em Brasília agora, numa trama onde os personagens principais estão limpando todos os seus rastros). O cinema de terror prega que o filme tem uma determinada estrutura: aqueles momentos em que todo mundo espera um susto, um grupo que vai diminuindo conforme a história acontece etc. Se um dia você quiser escrever uma história de terror, um bom início é entender esta estrutura que o fã do gênero já está acostumado. Ou você segue a estrutura (mas incluindo sua própria autenticidade à história) ou pensa numa forma brilhante de subvertê-la (e no caso específico de filmes de terror eu recomendo o excelente O segredo da cabana). Na prática a dica é: faça uma imersão nos melhores exemplos do gênero que você quer escrever e encontre os pontos pelo qual o fã do gênero aguarda. Isto vai evitar que sua história romântica tenha como personagens principais abóboras psicodélicas ou que sua trama de drama político apresente uma cena onde o Steven Seagal recebe uma homenagem do governo russo por serviços prestados (quando o mundo é mais estranho que a ficção). Não que o caminho seja criar uma obra calcada nos clichês do gênero. Acontece que quem gostou dos filmes do Harry Potter espera encontrar em Animais Fantásticos e Onde Habitam certos elementos para se sentirem motivados a comprar aquela nova ideia.

Para Steampunk Ladies eu comecei a me reaproximar dos faroestes, dando preferência ao cinema. Coincidentemente no período que iniciava o argumento, eu estava finalizando o roteiro de Quem Matou João Ninguém?, que tinha um personagem que vivia em função dos filmes do ator Clint Eastwood e foram duas bolas com um bicho piruleta só. Essa experiência colocou o diretor Sergio Leone entre os meus diretores prediletos, mesmo que ironicamente ele seja um dos realizadores que menos se utiliza da estrutura comum dos faroestes norte-americanos (estes muito influenciados pelos spaghetti western italianos). Aproximei-me também dos quadrinhos de faroeste, especialmente os (também italianos) da Editora Bonelli, como Tex e Zagor, conhecidos por seu apuro editorial. Mas é engraçado dizer que, no meio de todas estas boas influências, uma das coisas que mais gostei de me referenciar foi As loucas aventuras de James West, filme do Barry Sonnenfeld estrelado por Will Smith e que normalmente é escrachado pelos fãs de steampunk. O que eu sei é que me diverti pra caramba com esta mistura de faroeste e ficção científica, o suficiente para achar que minha história de faroeste também precisava ser sci-fi.

Recentemente quem tem feito essa mesma mistura de forma brilhante é a série Westworld, que caminha para o último episódio de sua primeira temporada no próximo domingo. Se em Steampunk Ladies eu levei o futuro para o passado, imaginando um mundo que evolui de forma diferente do nosso, em Westworld o passado é levado para o futuro, quando um parque temático se propõe a oferecer a experiência de se viver na virada do século XIX para o XX no oeste americano. E só apenas na sua relação entre ficção científica e faroeste que as obras se encontram. Diferente da minha HQ, a série da HBO é um drama pesado e o tipo de série que abre mil caminhos (e teorias) a cada episódio (sdds Lost). Vale avisar que Westworld é mais sobre ética e inteligência artificial do que sobre os temas comuns de faroeste (justiça e vingança). Pelo menos é o que parece a princípio. O gênero parece importante apenas no momento em que vemos as histórias dentro da história, já que os personagens do parque temático são seres que vivem histórias escritas por roteiristas.

Westworld, um criação de Jonathan Nolan (irmão e principal parceiro do diretor Christopher Nolan) e Lisa Joy, nasce com a tremenda responsabilidade de substituir Game of Thrones, que parte para suas duas últimas temporadas. Contando com a colaboração de um time estrelado (que inclui J. J. Abrams na produção e Anthony Hopkins no elenco), em termos de produção, no momento Westworld é um representante à altura para a tarefa, arriscando-me a dizer que sua primeira temporada é muito superior à primeira da série baseada na obra do George RR Martin. Resta saber se a temática fria, científica e complexa conseguirá ter o mesmo apelo junto ao grande público da sua antecessora.


E você, gosta de faroeste? Já está vendo Westworld? Deixa um comentário pra gente conversar a respeito. Você pode também deixar um comentário sobre esse texto no meu Facebook, no post sobre ele.

No texto passado falei sobre Economia Criativa e fiquei feliz DEMAIS com os feedbacks. Vai ter mais, aguardem.

Ah, é sempre bom lembrar que estou colocando tudo que leio nos meus perfis no Skoob (me sigam também no meu perfil de autor) e Goodreads e o que assisto está indo pro Filmow. Cliquem nos links e me adicionem por lá.

Já leu Quem Matou João Ninguém? ou Steampunk Ladies? Que tal ir na Amazon e avaliá-los? O seu comentário ajuda outras pessoas a saberem se vão ou não gostar. É só clicar em "Escreva uma avaliação". É jogo rápido:

 

Bem rapidinho

  • Estarei no dia 11 de dezembro em Fortaleza, para participar da X Feira Livre de Quadrinhos. O evento reúne apaixonados por quadrinhos e tem como proposta ser uma grande feira de escambo em plena Praça Luiza Távora, em Fortaleza. Vai ter um espaço especial para autores e darei o ar da graça, começando (ainda que timidamente) a voltar a participar de eventos.
  • No próximo final de semana eu poderia estar na roda de samba do Ancelmo, em Forquilha, mas ao invés disso dou início ao retorno das atividades da minha banda Sobre o Fim, com nova formação, começando por um show no AFA, evento que acontece na minha cidade, Sobral, no próximo dia 4 de dezembro. Para o início do ano que vem já temos agendada uma participação no Garage Sounds, no dia 7 de janeiro, num festival que reunirá mais de 30 bandas em 12 horas de show ininterrupto em Fortaleza. Cheguem junto.
  • Eu vou tocar rock em Sobral neste final de semana. Em São Paulo a Editora Draco toca o terror, a fantasia e a ficção científica num estande na CCXP, o maior evento de cultura pop do Brasil. Você infelizmente não vai me encontrar lá, mas vai encontrar meus quadrinhos no estande da editora. No estande da Draco eu destaco ainda os lançamentos dos novos volumes dos mangás Quack e Tools Challenge, este último fazendo sua grande estreia na editora do dragão. Os autores destas obras, Kaji e Max Andrade respectivamente, são pra mim dois grandes nomes dos quadrinhos nacional no estilo mangá da atualidade. Tem também O Despertar de Ctulhu em Quadrinhos, segundo volume da trilogia do “medo duotone”, agora focando no mestre H.P. Lovecraft, capitaneado pelo meu editor Raphael Fernandes (este homem lindo e que nem precisa de dicas minhas pra isso) (P.S.: junto com os autógrafos, peçam nudes pra ele). Procurem também pela mesa do Talles Rodrigues e do Pablo Casado e levem pra casa Mayara & Annabelle - Volume 3, que não é da Draco, mas é foda. E junto peguem o material da Netuno Press que vai estar na mesa do Pablo e Talles e saibam de onde saem os melhores quadrinhos do Ceará na atualidade.
  • Ainda falando em Draco, ontem a editora completou sete anos de vida. Misturando aniversário com Black Friday, tá rolando uma superpromoção no site do dragão, com todos os títulos com 40% de desconto e frete grátis para todo Brasil. Quem Matou João Ninguém? e Steampunk Ladies saem por menos de R$ 40,00 JUNTAS! E a promoção é só até AMANHÃ (29/11/16). CORRE NESTE LINK!
  • O Iradex agora faz parte desse negócio chamado financiamento coletivo recorrente. Através da plataforma Padrim é possível definir um valor mensal para colaborar para que o podcast continue existindo. Felizmente a campanha já é um sucesso além do esperado. É possível que nesta nova fase eu participe mais dos programas (tudo depende da minha tumultuada relação com estes seres chamados Kaio Anderson e Gabriel Franklin). Conheça a campanha do Iradex no Padrim e sinta-se a vontade para contribuir com qualquer quantia a partir de R$ 1,00 por mês e ser um dos “padrins” do podcast.
  • Podcast é a lei mesmo (pelo menos pra mim). Eu, o PJ Brandão e o Luis Carlos Sousa gravamos mais um para o Avantecast, no que agora chamamos de Roteirismos, série de programas focados principalmente no roteiro das histórias em quadrinhos. No último episódio o papo gira em torno de adaptações para quadrinhos, tarefa mais difícil que definir o que é biscoito e o que é bolacha, com a participação especialíssima dos roteiristas Marcela Godoy e André Diniz.
  • Vou dar um destaque especial para o trabalho de três pessoas que acompanham meus textos, até por que acho que todo dia deveria ser de conhecer um autor novo brasileiro. Experimentem os textos do catarinense Leon Nunes e do cearense Leo Mackellene e os quadrinhos do piauiense João Torres. Tá produzindo algo também? Responde este e-mail e divulgo na próxima newsletter. Exclusivo pra assinantes desta listinha, gente boa de coração.
 E por hoje é só, p-p-pessoal.



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25 de jul. de 2016

Sobre a escrita (Lista do Zé #6)


Olá, olá!

Não passou nem um mês e estou aqui batendo na sua porta de novo, como um Jack Nicholson desesperado! Mas na verdade estou bem feliz hoje, que foi o que me trouxe a esta edição extra da lista.

Na semana passada saiu o resultado preliminar do Troféu HQMIX e tive a satisfação de saber que, pelo segundo ano consecutivo, estou indicado a categoria Novo Talento - Roteirista no principal prêmio de quadrinhos do país, desta vez pelo meu trabalho em Steampunk Ladies: Vingança a Vapor. Não bastasse isso, minha HQ ainda é finalista na categoria Colorista/Arte-finalista, pelo trabalho maravilhoso do piauiense Ellis Carlos nas cores. Eu precisava dividir isso com vocês.

A votação final (ou segundo turno) segue até o próximo dia 30, neste link (onde apenas votantes previamente cadastrados votam). O resultado deve sair já na semana que vem. Cruzem os dedos!

"Mas só isso?", "Você veio aqui só pra se autopromover hoje?", vocês devem estar se perguntando. Pra não ficar só nisso, resolvi compartilhar mais uma indicação, o último livro que li e provavelmente uma das melhores leituras que fiz na vida. Se escrever me trouxe mais uma vez aos indicados do HQMIX, vamos falar sobre com a ajuda de quem faz isso como ninguém.
(Ah, esse texto é uma cópia do que as pessoas que assinam a minha newsletter recebem. Quer receber por e-mail meus textos ao invés de ter que ficar voltando aqui? Basta colocar seu e-mail e seu nome nos campos no final deste texto e clicar em SUBSCRIBE!)

Sobre a escrita

Apesar de ter sido lançado em 2000 nos Estados Unidos, Sobre a escrita: A arte em memórias, do escritor Stephen King, demorou 15 anos para ter uma versão brasileira. Pra piorar, contrariando os vários elogios, só este ano subi o livro na minha pilha de leituras. Eu não sabia o que encontrar quando comecei a leitura deste "manual para escritores" de um dos autores que mais me influenciou (como vocês devem ter percebido no meu e-mail anterior).

Podemos dividir este livro em três partes. Na primeira parte, que o autor identifica como seu "currículo", vemos King contando sua história e os caminhos que o levaram a ser escritor, tudo da forma como ficou conhecido nos seus livros. A relação com a mãe e o irmão, os primeiros textos publicados e o duro caminho antes do seu primeiro grande sucesso são algumas das histórias contadas do jeito muito particular de Stephen King. Essa parte dá ao livro o tom de autobiografia pelo qual também é conhecido. Na segunda parte, o livro se torna um manual de fato. Mesmo dizendo que quer evitar criar regras, King fala sobre o seu processo nos mínimos detalhes. Numa guinada brusca de estilo e ritmo, nesta parte vemos um texto mais técnico. Se a primeira parte pode ser divertida para qualquer leitor, esta pode enfadar um pouco os não-escritores. Já para quem quer chegar onde King chegou, este pedaço é OURO PURO. Só é necessário compreender que o que King fala aqui se refere muito à sua realidade. Não dá pra levar tudo ao pé da letra, já que alguns tópicos não estão alinhados com a escrita em língua portuguesa ou com o mercado livreiro brasileiro (segure as pontas antes de sair cortando os advérbios dos seus textos ou procurar catálogos de agentes literários, como sugere King). E aí eu saio um pouco da resenha para dar uma sugestão. Com relação às dicas gramaticais, é melhor procurar manuais escritos por autores brasileiros. Sobre a parte de mercado, eu recomendaria sites como o Homo Literatus e o Viver de Escrita e podcasts como o Cabulosocast e Os 12 Trabalhos do Escritor, que exploram a profissão de escritor no Brasil no nível do livro do King. Voltamos à autobiografia na terceira parte, aqui já com um pouco de texto motivacional. Muito focado no acidente que o autor sofreu em 1999, acompanhamos a recuperação de King e como a escrita foi essencial neste processo. É o momento onde temos as dicas finais, entrecortadas por um relato detalhado de um dos momentos mais difíceis da vida do escritor.

Sobre a escrita é um trabalho de não-ficção de um dos reis da ficção e, vamos ser sinceros, podia ser uma bula de remédio ou uma intimação judicial: sendo escrita pelo King ainda assim valeria a pena a leitura. Curtinho, este é um livro pra se ler numa sentada num final de semana (ou, no meu caso, em algumas horas de uma viagem de trabalho). Para quem é fã do autor, um texto obrigatório. Para quem quer escrever, um apanhado de lições valiosas, algumas óbvias, outras nem tanto. E, se o rei falou, é bom escutar
* * *

Já leu Sobre a escrita? O que achou? Tem mais algum manual de escrita criativa para recomendar?

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Bem rapidinho


Fico por aqui hoje. Já está com os dedos cruzados?


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15 de jul. de 2016

Violência doméstica (Lista do Zé #5)

Olá, olá!

Vamos tentar uma coisa diferente hoje? Que tal um pequeno conto?

Escrito nos primeiros dias de 2013, Violência doméstica foi um conto que fiz para participar da coletânea The King (Editora Multifoco), que reuniu pequenas histórias de autores brasileiros inspiradas no trabalho do Stephen King. A ideia surgiu enquanto eu lia um conto do King chamado Parto em casa (publicado no Brasil no primeiro volume de Pesadelos e Paisagens Noturnas, livro de contos excelente que eu mais que recomendo). Você já deve ter lido um livro ou assistido um filme e em algum momento ter pensado: "e se a história fosse por este lado?". Foi daí que surgiu Violência doméstica. Outra curiosidade interessante é que escrevi a primeira versão deste conto praticamente em uma "sentada" só, no confortável teclado (#sqn) do meu iPad, deitado numa rede, num alpendre de um sítio na Serra da Meruoca. Então quaisquer indicações a este cenário não será mera coincidência.

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Violência doméstica, por Zé Wellington

Quando deu a notícia no jornal na TV, a apresentadora não evitava olhar torto para seu colega e marido do outro lado da bancada. Imaginava como estariam os trigêmeos em casa. "Estão por todo o planalto. O Ministério da Defesa ainda não se pronunciou, mas acredita-se que se trate de algum experimento descontrolado. Que Deus nos ajude. Boa noite". Encerrou categórica e sem conseguir evitar um soluço. Foi seguida de um boa-noite ainda menos animado do outro jornalista.

Em casa, Penha estremeceu. O dia que o pastor sempre falou havia chegado. Podia ficar tranquila tendo pagado o dízimo religiosamente em dia nos últimos meses? Deitou-se na velha rede e começou a rezar.

Pela internet, especialistas especulavam a origem da infecção. Os primeiros casos, rapidamente isolados na China e na Índia, eram praticamente iguais no restante do mundo. Rússia, Japão, um caso isolado - mas suficiente para infectar Berlim inteira - na Alemanha. A lógica apontava para um caso no Brasil nos próximos dias. No aniversário de um mês do primeiro morto-vivo um gari do Espírito Santo teve um enfarto e, dois segundos depois de cair morto, avançou no pescoço de uma mendiga, que, trinta segundos depois, deixou cair no chão o apetitoso sanduíche que tinha ganhado de um executivo e abocanhou seu bebê maltrapilho. Rapidamente as regiões sul e sudeste do país estavam dominadas, junto com Argentina, Uruguai e uma parte do Chile.

Penha tinha desistido de ir à igreja logo na primeira semana. Nenhum monstro tinha aparecido na sua cidade ainda. Sem monstros, sem mordidas. Sem mordidas, sem monstros. Simples assim. Com o exército barrando as entradas da cidade, aquele local parecia seguro. Foi quando ouviu que em alguns cemitérios os "velhos" mortos também estavam querendo levantar. Mandou Osmar Filho e Vera Lúcia para a casa de sua irmã. Sozinha em casa sentou-se na cadeira de balanço e se pôs a tricotar. Não ia demorar.

As maiores capitais do mundo estavam em quarentena. A ONU aconselhava que todos que morressem fossem cremados. Houve protesto de diversos grupos religiosos contrários a transformação dos defuntos em cinzas. Nos Estados Unidos duas igrejas pregavam a "autotransmortização" como um retorno aos primórdios e a inocência despida dos pecados capitalistas. Uma onda de suicídios se iniciou. Agora bastava morrer para se tornar um morto-vivo.

A porta do quintal gemeu e Penha se agitou. Desajeitada, pegou a única arma que dispunha a mão: uma velha vassoura de palha. Ficou tremendo atrás da porta esperando até o momento em que um gato preto entrou na sala. Respirou aliviada e pensou que deveria se preparar melhor para o que estava por vir. Com a infecção, as licenças para armas de fogo estavam dispensadas. Penha comprou um calibre trinta e oito, mesmo o vendedor oferecendo um modelo automático. Seu pai teve uma dessas e uma vez até deixou que ela atirasse num monte de garrafas. Penha precisava de algo familiar naquele momento.

Com as tevês interrompidas, as pequenas rádios AM locais eram a única forma de as pessoas ficarem atualizadas sobre a infestação. Eram cinco da manhã quando o repórter policial noticiou que um cientista indiano havia descoberto uma vacina a base de alho capaz de evitar a infecção. "Não vai trazer de volta seu parente, mas vai evitar o súbito apetite por miolos caso você seja mordiscado", disseram com palavras mais bonitas na coletiva de imprensa. Sem novas infecções, em um mês a população de zumbis tinha diminuído em sessenta por cento. Voluntários - em sua maioria caipiras das cidades interioranas sobreviventes - formaram o exército de espingardas que parou a proliferação dos desmortos. Em mais alguns dias tudo aquilo seria passado. Hollywood já tinha pelo menos três filmes engatilhados, sendo um deles o inusitado ponto de vista de um zumbi, estrelado por Bill Murray.

Depois que ouviu as boas novas no rádio, Penha parecia tranquila quando pisou no quintal de casa. Respirou devagar, deliciando-se com o cheiro das fezes do galo que criava no fundo da casa. Mal se virou para entrar quando uma mão brotou do terreno arenoso segurando seu calcanhar. Penha reagiu instintivamente chutando o membro, que parecia estar em estado avançado de decomposição. Correu para dentro de casa, mas antes de fechar a porta pôde observar aquele cadáver levantar-se desajeitado. "Ainda parece o mesmo bêbado de sempre", pensou. Empurrou a velha máquina de costura à frente da porta e correu até seu quarto, desenrolando o trinta e oito de um velho lenço, primeiro presente de namoro. Podia ouvir o som violento da porta do quintal sendo esmurrada. A última pancada parecia ter derrubado a velha Singer no chão. Penha se posicionou no corredor. Iria encará-lo de frente. O invasor caminhava devagar com a cabeça baixa, puxando uma perna. Penha tremia, mas mantinha-se com a arma apontada para o defunto, que interrompeu sua caminhada e olhou nos olhos da desesperada mulher. "Precisa engatinhá-la, meu bem", disse o desmorto com suas carcomidas cordas vocais. Penha deu um pulo para trás quando percebeu que ele podia falar. "Como estão os meninos? O Oscarzinho ainda tá dando trabalho pra professora?", prosseguiu o cadáver, que após essa última frase teve que puxar uma minhoca de dentro da boca. "Comparado a isso sua comida até que não é tão ruim", continuou tagarelando com aquele meio sorriso irônico que Penha tinha aprendido a odiar. O zumbi sentou-se na cadeira de balanço no corredor da casa. Parecia tranquilo e à vontade.

Pilhas de corpos eram queimadas em praças públicas sob muitas comemorações. Várias pessoas diziam ter voltado da “desmorte” na televisão. Uma mulher lutava na justiça para continuar casada com um morto-vivo. Dois chineses anunciaram fábricas de calçados movidas a trabalho zumbi. Podia ser o fim da mão-de-obra barata e do trabalho escravo nos países subdesenvolvidos.

“Eu devia saber que cada surra que te dei foi pouca”, continuava aquele desmorto na sala de Penha, “achei que tu sabia onde era teu lugar e olha o que tu fez comigo". Penha tentava respirar devagar e se concentrar quando alguém tocou a campainha. Era Tonico, vizinho da frente. Penha não queria abrir a porta e ter de explicar por que o cadáver de seu marido - que ela dizia ter saído de casa para comprar um maço de Derby e nunca mais tinha voltado - estava ali parado, balançando na cadeira. Permaneceu em silêncio e mal percebeu quando o zumbi levantou e a agarrou pelo pescoço. “Tu bota veneno na minha comida e acha que eu vou deixar por isso mesmo? Vou te dar uma surra que você nunca mais vai esqu--", antes que o zumbi pudesse terminar de falar, Penha enfiou o cano do revolver em seu olho putrefato. Atordoado, o morto-vivo cambaleou até a porta do quintal, onde Penha o acertou com sua panela de pressão, forçando-o a sair da casa. Ficou tentada a terminar o serviço com o trinta e oito, mas o barulho podia chamar a atenção do vizinho. Pegou a garrafa de álcool embaixo da pia da cozinha e despejou sobre o marido. Antes de acender o fósforo, Penha contemplou o desmorto por alguns segundos. Ele parecia incomodado com a ardência do combustível. O zumbi queimou durante pelo menos quinze minutos.

Discursos decorados por cientistas condecorados se tornaram um clichê na televisão. Por um instante todas as guerras foram esquecidas e as diferenças entre raças e religiões pareciam nunca ter existido. O mundo parecia ter mais paz do que antes. As famílias mais unidas. Enquanto isso Penha chorava enquanto varria as cinzas no alpendre do seu quintal.
* * *
Bom, é isso. Agrada a vocês a ideia de vez ou outra eu colocar um conto (ou uma história em quadrinhos, quem sabe) aqui? Responde este e-mail e me diz o que achou.

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Bem rapidinho

  • Lembra que eu falei d'Os 12 Trabalhos do Escritor, podcast do escritor AJ Oliveira? Os episódios continuam fantásticos e a recomendação permanece para aqueles que pretendem se aventurar em escrever. E para motivar ainda mais os ouvintes, ofereci um exemplar de Quem Matou João Ninguém? e outro de Steampunk Ladies: Vingança a Vapor, com dedicatória e autógrafo, para sorteio. Clique aqui para saber como participar.
  • Ainda falando de podcasts, gravei mais um episódio com os companheiros de pena PJ Brandão e Luis Carlos Sousa, desta vez sobre personagens e com a participação especialíssima da Marcela Godoy, roteirista da última Graphic MSP, Papa-Capim: Noite Branca. Um papo de alto nível que você pode escutar clicando aqui.
  • Termina hoje a votação do Troféu HQMIX! Se você é votante do prêmio basta acessar este link (acessível só pra quem se cadastrou antecipadamente). E se por um acaso você leu e gostou de Steampunk Ladies, vale lembrar que estamos concorrendo em algumas categorias: Novo Talento - Desenhista (Di Amorim e Wilton Santos), Novo Talento - Roteirista (Zé Wellington), Colorista (Ellis Carlos), Edição Especial Nacional (Steampunk Ladies) e Projeto Editorial (Steampunk Ladies).
Por hoje só. Até a próxima e cuidado com mortos enterrados no quintal!


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27 de jun. de 2016

Quase (Lista do Zé #4)


Olá, olá!

Hoje é o texto do QUASE.

Minha ideia nestes textos é sempre falar sobre as últimas coisas que vi, que me chamaram atenção e que me fizeram querer passar adiante. Por um tempo cogitei que aqui era o lugar de coisas MEDALHA DE OURO, OSCARIZÁVEIS, EISNERIZÁVEIS ou, como alguns de vocês podem gostar de chamar, TOP (seguido de emojis de setinhas pra cima). Estou evitando nestas indicações ter que recorrer a coisas que estão entre os meus "melhores da vida" e procurando indicar obras mais recentes e que estejam na minha memória recente. E estas últimas semanas pertenceram a obras que não entraram entre os meus melhores, mas que chegaram QUASE lá.

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The Bletchley Circle

Pra escrever Steampunk Ladies, mergulhei num universo de obras protagonizadas por mulheres. Não apenas obras protagonizadas por mulheres, mas obras do tipo que as mulheres diziam se identificar (afinal há um absurdo de protagonistas femininas por aí que não atraem mulheres e eu inclusive já tive oportunidade de gravar um podcast sobre isso). Dentro de um grupo no Facebook com discussões sobre a representação das mulheres nos quadrinhos, vi a série The Bletchley Circle ganhar força entre várias meninas. Na história acompanhamos quatro mulheres tentando impedir um assassino em série na Londres da década de 1950. Tramas com assassinos seriais na Inglaterra, por si só, já são bem atraentes (é uma tradição que começou com toda a curiosidade em volta de Jack o Estripador), mas aqui conta também o fato de as protagonistas terem sido “codebreakers” (ou decifradoras) em Bletchley Park, estação militar secreta real onde várias mulheres tentavam quebrar os códigos nas comunicações alemãs durante a Segunda Guerra Mundial. Em sua primeira temporada, The Bletchley Circle é um baita thriller, com atuações competentíssimas e um bom roteiro. Conta a favor toda a discussão que a série traz sobre o papel da mulher na sociedade da época, sobre machismo e sobre violência contra a mulher. Eu e minha esposa devoramos rápido a primeira temporada, que tem três episódios de pouco mais de quarenta minutos com o primeiro caso do grupo. "E por que essa série é um QUASE", você deve estar se perguntando? Por conta da segunda temporada, que infelizmente apresenta um ritmo mais lento e um roteiro um pouquinho mais preguiçoso, na minha opinião. Com quatro episódios e dois casos diferentes, a segunda parte do seriado perde muito também com a saída de uma das protagonistas da primeira. Mas ainda assim é uma daquelas coisas escondidinhas na Netflix que merece uma maratona no final de semana. Ah, tem podcast no Iradex sobre a série, num programa muito legal capitaneado pelas meninas do grupo.

Frequencies

Lançado de forma independente em 2013, conheci Frequencies (que também pode ser encontrado na internet como OXV: The Manual) numa indicação que o meu amigo Gabriel Franklin fez num podcast do Iradex. A premissa é (ou parece) ser bem simples: estamos num mundo onde cada pessoa emite uma frequência que pode ser medida. Esta frequência define seu sucesso, quase como se uma frequência maior determinasse uma maior probabilidade de você vencer na vida. Neste contexto conhecemos Zak e Marie, respectivamente uma pessoa de baixa frequência (um valor negativo) e outra de alta frequência. Por terem frequências muito diferentes, os dois mal conseguem ficar no mesmo espaço sem que um pequeno desastre aconteça. Pronto, com o universo (e toda a sociedade) condenando esta união, é claro que os jovens vão se apaixonar, numa história de amor proibido embalada por experimentos científicos e conceitos filosóficos. Mesmo com uma produção caseira, o filme consegue criar uma atmosfera curiosíssima e instigar o espectador. A primeira metade do filme usa a estranheza do mundo onde a história se passa a seu favor (e neste sentido até mesmo o jeito indie da produção ajuda). Mas aí vem o plot twist. Uma reviravolta no meio do filme diminui a força do elemento mais interessante da história pra mim: a relação entre Zak e Marie. Quando se volta para o emaranhado de filosofia e física do qual o universo da história depende, o filme perde bastante. Na verdade QUASE se perde completamente. E olha, eu fui um daqueles que amava matemática na escola e hoje adora esses filmes cabeçudos e cheios de interpretações e mesmo assim fiquei perdido no final do filme, de um jeito que eu não acho legal. Então se você gosta de filmes que te deixem pensando e que te fazem correr para ler um monte de textos a respeito, Frequencies deve lhe agradar. Se não gosta ou não tem paciência pra coisas assim, É MELHOR PASSAR BEM LONGE.


Já viu Frequencies ou The Bletchley Circle? Comenta lá embaixo e me diz se é um QUASE pra você também. Tem alguma coisa aí que você viu recentemente e quer me indicar? Aceito. :)

O texto passado gerou muitos comentários apaixonados e saudosos sobre Gravity Falls... Eu também ainda estou na fase de luto com o fim.

Ah, é sempre bom lembrar que estou colocando tudo que leio nos meus perfis no Skoob (me sigam também no meu perfil de autor) e Goodreads e o que assisto está indo pro Filmow. Cliquem nos links e me adicionem por lá. E, se já leu meus quadrinhos, não esqueça de deixar sua avaliação neles.

Sempre esqueço de dizer aqui o quanto me divirto com o meu Instagram... Tem um pouquinho do meu cotidiano lá, caso alguém se interesse.

Você pode também deixar um comentário sobre esse texto no meu Facebook, no post sobre ele.

Bem rapidinho

  • Recentemente pude participar do podcast Os 12 Trabalhos do Escritor, do escritor AJ Oliveira. Cada episódio do podcast aborda um aspecto da carreira de escritor e tem vários convidados de alto nível (até agora já participaram André Vianco, Fábio M. Barreto, Felipe Colbert, Enéas Tavares e Eduardo Spohr). Tive a honra de falar sobre a importância da figura do leitor beta no quarto episódio do projeto. Uma coisa legal deste papo é que pude ainda falar em mais detalhes da experiência de escrever e lançar Steampunk Ladies: Vingança a Vapor, de uma forma como ainda não tinha tido oportunidade. Clique aqui para escutar.
  • Sei que bastante gente que acompanha meus textos trabalha com quadrinhos. Se você faz parte desta estatística, é bom avisar que estão abertas as inscrições para votantes do Trófeu HQMIX, o prêmio mais importante das histórias em quadrinhos no Brasil. Como votante, você pode ajudar a escolher os indicados e os premiados do troféu. Se você é desenhista, roteirista, colorista, artefinalista ou trabalha em qualquer outro aspecto da produção de uma história em quadrinhos, está apto a ser votante. Profissionais que falam sobre quadrinhos em revistas, jornais, blogs, podcasts etc. também podem se inscrever. As inscrições vão somente até dia 30/06. É só acessar este link.
E é isso. Te empolguei ou pelo menos QUASE isso?


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21 de out. de 2014

26 de set. de 2008

Atualização BRUTA Semanal

Salve, salve!

Religiosamente uma semana depois de nossa (re)estréia, estamos de volta! No post passado falei algo sobre postar todas as semanas, mas como achei muito vago, resolvi ser mais específico: toda quinta-feira de madrugada cai um post por aqui. E este fala de vários assuntos. COME ON!

A TV QUE NÃO TEM NA TV
De repente descobri os podcasts. Comecei a acompanhar vários, mas um dos meus sites de cabeceira colocou no ar seu videopodcast, o que merece ser comentado. São dois episódios por semana do OMELETV, do Omelete. Os episódios estão muito divertidos, afinal não é em qualquer programa de TV que você assiste um papo cabeça de quase cinco minutos sobre o que é ser nerd. INDISCUTIVELMENTE HILARIANTE!

DE OLHO NO NOVO BESOURO
A série antigaça Besouro Verde, da qual meu sogro é um grande fã, mostrava uma dupla de heróis (Besouro Verde e Kato) na boa e velha luta contra o crime. Um dos grandes chamarizes do folhetim era que o parceiro do protagonista, o oriental Kato, era nada menos do que Bruce Lee, o chinesinho mais karatê de todos os tempos. Já fazia uma cara que tentavam tirar do papel o remake-longa-metragem da série. Parece que agora sai. E promete. Já sabíamos que outro chinês maluco, Stephen Chow, diretor e protagonista do maravilhoso Kung Fu Futebol Clube (Shaolin Soccer) e do bom Kung Fusão (Kung Fu Hustle) seria um dos produtores, e o papel de Besouro Verde ficaria para o ator e roteirista Seth Rogen, uma das novas revelações da comédia norte-americana e parceiro criativo do bam-bam-bam Judd Apatow (produtor/diretor de filmes como Superbad, Ligeiramente grávidos, O virgem de quarenta anos, etc). Essa semana, sites de cinema do mundo inteiro divulgaram que Stephen Chow, além de produtor, será Kato e ainda de cara dirigirá o filme, com um roteiro de Rogen! Seth Rogen tem escrito as melhores piadas do cinema norte-americano nos últimos anos, e Stephen Chow tem uma visão muito divertida para filmes de ação. Resultado: esse vai ser para assistir no cinema com pipoca e tudo. Apesar de não ser fã da série, guardo imenso respeito por tudo que envolve Bruce Lee, o que dá um brilho mais especial ainda ao projeto. Se você quiser conhecer o Besouro Verde original, basta sintonizar na TV paga o canal TCM, que exibe Besouro Verde e milhares de outras séries clássicas. ALTAMENTE AGUARDADO!

SMALLVILLE E HEROES (OU ASSISTA LOST)
Estrearam nessa semana as novas temporadas de duas das séries mais comentadas dos últimos anos: Smallville e Heroes. Smallville, as aventuras do jovem Superman (esquece o Superboy, Sílvio Santos!) teve um fraquíssimo primeiro episódio, da que pode ser sua última temporada (oitava). A temporada passada, na minha humilde opinião, foi uma das piores (salvo pelos episódios que tem a participação da Liga da Justiça e outros personagens da DC, pouco se aproveita). A série claramente vem perdendo seu charme. Os dois produtores originais já deram o fora desta última (?) temporada, o que em minha opinião não é um bom sinal. Heroes também não veio de uma boa temporada. Por conta da greve dos roteiristas, teve que se contentar com apenas 11 chochos episódios no seu segundo volume. Muitos dos defeitos desse último retornam nos dois primeiros episódios do terceiro volume. São os velhos clichês (ou seriam plágios?) de sempre... Afinal, a história de Level 5, grande estopim da temporada, já tinha sido explorada em Smallville com seu Level 23 (é isso mesmo?!), uma prisão secreta para superpoderosos. Cadê a criatividade dos roteiristas? Falta ainda suspense e calma para desenvolver a história. Mas ainda é cedo para falar das duas séries. Talvez até eu só esteja mal acostumado. Fiquei bem mais exigente em se tratando de séries quando comecei a me desatrasar em Lost. Contrariando os elogios do meu irmão (um fanático pela série), demorei a começar a assisti-la. Atualmente estou no meio da segunda temporada (das quatro existentes) e o que posso dizer... Lost é uma das coisas mais sensacionais que já vi. Cada episódio tem uma produção digna de filme hollywoodiano. Os roteiros bem amarrados vão prendendo sua atenção até você se perceber obsecado por cada detalhe em cena. DEFINITIVAMENTE RECOMENDADO!

A VIRADA DO PEBA
Faltava um comentário no meu blog sobre a arrasadora seqüência cinematográfica que veio se tornar o maior blockbuster do cinema da minha cidade. Não, não estou falando de Batman - O Cavaleiro das Trevas*. Os insanos sobralenses das autodenominadas Organizações Kootooko lançaram no final de agosto o longa-metragem Golpe do Peba 2 - Porradaria Universal. Foram três dias de filas e lotação total nas duas salas do Cinema Renato Aragão. Pude prestigiar o filme e comprovo a evolução em relação ao primeiro. Produção mais caprichada, edição eficiente, lutas coreografadas e as mesmas piadas bestas com sabor sobralense. Um clássico nordestino instantâneo. Fica ainda mais engraçado para quem é de Sobral, pelo passeio pelas conhecidas locações. É quase um grande vídeo institucional da cidade, só que cheio de palavrões e efeitos especiais toscos. SIMPLESMENTE SENSACIONAL!

AUTOMERCHAN 1
Já que estamos falando de Sobral, divulgo através do meu blog o lançamento do primeiro vídeo-clipe da minha banda, Sobre o Fim, dirigido e editado por mim mesmo. A música escolhida foi o nosso “hit”, Sobre prisões e guerras, canção criada pelo meu companheiro de banda Helder “The Machine” Lemos. Filmamos em cinco horas sem gastar nenhum tostão, e até que não ficou de se jogar fora... Clique aqui para assistir. Muito bom voltar a trabalhar com vídeo depois da minha experiência com um curta-metragem uns tempos atrás. Agora é sentar e planejar o próximo (rumo a MTV!). INDISCRETAMENTE PRETENCIOSO!

AUTOMERCHAN 2
Depois de quase um ano, meu grupo de quadrinhos conseguiu lançar a segunda edição do Gattai Zine. São duas histórias: Camaleão, de Wescley “mazela” Braga, e MetalGênesis, de Alex Soares e de meu graaaaaaande amigo Totoro (mais conhecido por aí como Sílvio Romero). Tive o prazer de editá-la, e ficou legal, viu? Tudo indica que a próxima edição sai com dois roteiros meus. INDUBITAVELMENTE EMPOLGADO!


NÃO DEIXE DE VER: The Mindscape of Alan Moore
Sou fã inveterado de Alan Moore (roteirista de Watchmen, V de Vingaça, Do Inferno e milhares de outros clássicos dos quadrinhos). DeZ (com Z maiúsculo mesmo) Vylens teve a oportunidade de filmar o lindíssimo documentário The Mindscape of Alan Moore (sem nome em português e muito menos sem previsão para sair no Brasil). Quadrinhos? É quase um assunto secundário no filme, que mostra a opinião de Moore sobre os mais variados temas, como fama, sexo, religião e magia. O interessante é ver a mente doentia do bardo inglês criar relações entre esses assuntos. Moore dá uma verdadeira aula de filosofia e mostra (para quem ainda tinha dúvidas) que é definitivamente um GÊNIO. Enquanto não sai no Brasil, não nos resta outra opção a não ser levantar a bandeira pirata, certo? EXTREMAMENTE RECOMENDADO!

E para terminar uma nota sobre o adiamento do MASA 5, evento que organizo na minha cidade voltado para o público de animê e quadrinhos. Não fiz em nenhum lugar e muito menos será aqui que apontarei os motivos e culpados (se é que existem) para que tenhamos cancelado há exatos 30 dias do evento o que poderia ser um dos grandes momentos do entretenimento sobralense, a confirmação do quão grande o MASA havia se tornado. Simplesmente existem dificuldades que você não pode dobrar sozinho. Existem momentos em que essas dificuldades trespassam os limites e te impedem de dar atenção a outras prioridades na sua vida. E aí é o momento de parar e colocar numa balança se vale a pena acreditar naquele sonho ou se já é hora de passar para o próximo da lista. Nós simplesmente precisamos de tempo para pensar sobre isso. Espero que todos possam compreender.

Entonces... Hasta jueves!

* Acho que faltava dizer isso aqui no blog: QUE PUTA FILME!